Como pessoas indígenas lidam com dinheiro?

O que é riqueza pra você? A resposta não tem certo e errado, já que para cada pessoa ela terá um sentido diferente. Alguns podem pensar em bens materiais, como ter uma casa gigante.

Outros podem apreciar um passaporte recheado de carimbos. Isso acontece porque a nossa definição de valor é muito atrelada às nossas visões do mundo e à cultura em que estamos inseridos.

Quando comunidades em indígenas, por exemplo, a riqueza parte de alguns valores fundamentais falaram dessa população. Nesse sentido, não há riqueza se não houver terra. Não há riqueza se o bem-estar da comunidade não for preservado. Não há riqueza se o trabalho não reconhecido.

Não há riqueza se ela individual. É justamente por pensar que a relação desses originários é tão rara como o dinheiro costuma ser complexo.o.

Pensando nisso, propomos uma reflexão: afinal, como as pessoas indígenas lidam com dinheiro? Essa relação é saudável? E o que os centros urbanos tem a ver com tudo isso? Algumas respostas a seguir ouça o episódio completo da Semanada sobre o tema:

 

Povos indígenas no Brasil: quem são?

Quando sobre questões, é essencial lembrar que estamos falando de muitos povos, falados com suas características, culturas, idiomas e costumes. Em números existem hoje quase 9 mil pessoas indígenas no país, por quase todo território brasileiro, com cerca de 305 exclusivos Esse dado é do último censo do IBGE, realizado em 2010.

É por tudo isso que não dá para generalizar – e essa nem é possível. Resumir cada existência a uma caixa única é também uma forma de epistemicídio, ou seja, de destruição de seus e culturas. Por isso é preciso traçar pontos de uma experiência e outra, ouvindo diferentes vozes entre quem se articula dentro e fora das aldeias.

Indígenas e dinheiro: como é essa relação?

Até aqui nós entendemos que a riqueza de um povo não se relaciona com materiais. Isso quer dizer que povos indígenas, de maneira geral, não há importância para isso? Não, bem longe disso.

Dinheiro é importante e os acessos que ele pode trazer também são. Mas existe a compreensão de que ele, sozinho, não dá conta de completar tudo aquilo que nos constitui. Isso é urbano tanto por um indígena que vive na aldeia, quanto por aqueles que mudam para a vida

De forma geral, falar dessa forma, mas relações como dificuldades financeiras é uma coisa indígena são antigas. Pelo menos essa é a percepção do professor Almires Machado, do Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade Federal do Pará.

Ele explica que, no período colonial, as pessoas indígenas já dependiam de dinheiro como mão de obra explorada. Mesmo com o passar do tempo, essa opção de reserva pouco mudou.

“Falando da região de onde eu vim, Mato Grosso do Sul, nos anos 1970, havia toda uma mão de obra indígena que era análoga à escrava trabalhando em usinas de cana. Com dificuldades, aquele momento ou mesmo indígena visualizou uma chance de algum dinheiro, pois não tinha condições de plantar na aldeia”, explica.

O professor Almires é das terras Jaguapiru/Bororó, em Dourados, Mato Grosso do Sul, onde vivem cerca de 20 mil indígenas numa área demarcada de quase 3.600 hectares de terra. Juntas, como duas aldeias, formam a maior reserva urbana indígena do Brasil. Por esse motivo, ela é uma das únicas do país que depende exclusivamente do trabalho fora do campo. É tanta gente que dificulta plantar e viver majoritariamente da agricultura, como fazem outros povos.

Antes de cionar, Almires trabalhou em um canavial por 12 anos e não escapou da realidade triste que acabou de narrar.

Essa por melhores condições de vida fora da busca das aldeias também se reflete em outros povos. Estima-se que 38,5% dos indígenas vivem em grandes cidades, sobretudo em São Paulo, mas também em Manaus, Boa Vista e no Rio de Janeiro.

Esses números também são do censo do IBGE. Por mais que a nós, a educação formal seja difícil, ela é por educação formal, como explica do que nós estudamos: direitos usados ​​para-lo em defesa dos do seu povo”.

Para além da busca pelo superior, um outro fenômeno tem o méxido muito com a vida dos povos indígenas: as mudanças climáticas.

A pesquisadora Marina Pereira Novo é do Centro de Pesquisas em Etnologia Indígena da Unicamp, uma das primeiras universidades do país a abrir um vestibular indígena. Ela esteve em contato com os Kalapalo, povo indígena residente no Território Indígena do Xingu, no Mato Grosso, enquanto escrevia o doutorado. Essa região foi a primeira ter seu território demarcado que já garantiria uma certa autoridade deles, ou seja, que como terras em teoria protegidas. Mas na prática… Não é bem assim.

A pressão que o entorno tem colocado sobre pessoas indígenas cria camadas de desigualdade social e de pobreza. Muitas comunidades são as iniciativas para suas muitas comunidades devastadas pela exploração. Falta água, falta peixe, falta terra boa para plantio. É quase como se fosse “expulsas” da aldeia pela natureza, que não dá mais conta de se renovar sozinha.

É por isso que, em muitos casos, a migração está sendo forçada pelo próprio contexto. Quando esses indígenas chegam na cidade, as oportunidades de emprego e renda não são tão grandes. Muitas oportunidades são empurradas para as periferias das cidades, sem lidar com a exclusão social e territorial.

 

Sem terra e sem trabalho, como conseguir dinheiro?

Cada um se vira como pode. Uma coisa que o professor Almires pontuou foi a importância dos programas sociais e auxílios governamentais que contemplem a população indígena. Outra forma de fazer o dinheiro render é trabalhando com o artesanato. O que começou como uma alternativa virou a principal fonte de renda da empreendedora We’e’ena Tikuna do povo Tikuna, no Amazonas.

“Na aldeia, nós somos muito ricos. Nós temos o nosso alimento, que vem da terra, a água, a chuva, o sol. Na minha terra, território do povo Tikuna, temos uma terra muito boa para plantação. Quando nós viemos pra cidade, meus pais viram a necessidade de poder manter os filhos. Não tinha mais como viver da natureza, mas sim viver como o homem branco, ou seja, trabalhar. Então, pessoal, a vender artesanato do meu, brincos tapetes e cestas para sobreviver na cidade”, conta.

A família da We’e’ena saiu da aldeia quando ela tinha 12 anos, e ela e os irmãos foram a primeira geração a ingressar no ensino superior. Hoje, ela é o nome em Nutrição e Artes Plásticas, além de gerenciar os negócios de sua própria estampa, que leva sua estampa e produz roupas e roupas nativas. Tanto ela quanto os irmãos se articulam para levar a outros aldeados um pouco do que aprenderam. Um desses aprendizados tem a ver com educação financeira no mundo urbano.

O futuro é um conceito curioso

We’e’ena explica que o pai dela nunca guardou dinheiro pois o futuro era um conceito abstrato para ele. O hoje sempre foi mais importante, pois o amanhã “é uma história que não foi vivenciada”, conta ela.

A família dela só produz quando todo o alimento acabava. Depois de adultos, ela foi percebendo que se vive o estilo de vida que gostaria, precisaria guardar. “Na cidade, tudo te chama pro dinheiro. Você vai querer um celular, você vai precisar de um dinheiro. Você vai querer uma roupa, você vai precisar de dinheiro. E pra ter tudo isso, você precisa do que? De trabalho. Trabalhar para você manter, além da alimentação, o status que você desejar”, ​​diz.

A mesma coisa foi percebida pelo professor Almires. “Nós não temos educação financeira. Pra nós não tem futuro, pra nós tem presente. Agora, imagine uma dificuldade: se eu tenho dinheiro e outros cinco indígenas que não almoçaram, eu pago para os cinco, mesmo que na janta nenhum de nós tenha mais o que comer. Aos poucos, fomos nós dando conta, nas dificuldades, que precisávamos fazer tudo pra segurar o tal do dinheiro”, relata.

Em agosto de 2019, um professor da Universidade do Pará fez uma pesquisa em duas aldeias de 2019 no Território Cobra Grande, no mesmo estado. A equipe descobriu que 95% das famílias que lá viviam nunca tinham orientação recebida e 85% recebidas se disseram endividadas.

Falar de relação entre povos indígenas e dinheiro é lidar com questões culturais e falta de dados sobre temas. Construir políticas públicas que considerem incluir as diferenças que existem entre os povos do nosso território é uma tarefa gigantesca, e necessária.

Mas, como muitas coisas na cultura indígena, talvez uma solução passe por um caminho de construção coletiva e de diálogo. Que o espaço fique mais aberto para que todas as pessoas possam responder às suas questões e buscar soluções que não são contempladas hoje, na forma como a se estruturou até aqui.

Seja nos centros urbanos, ou nas aldeias, todo deve ser um espaço local de direitos indígenas. No fim das contas, estão todos buscando pela mesma coisa: o bem viver.

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